Na semana ada, Taylor Swift anunciou que estava retirando suas músicas do Spotify porque disponibilizá-las online gratuitamente prejudica a venda de seus discos (Veja detalhes). Na terça-feira, Daniel Ek, chefe do Spotify, postou uma extensa resposta às alegações do cantor no blog.
“Taylor Swift está absolutamente certa: música é arte, arte tem um valor mensurável e artistas merecem ser pagos por seu trabalho”, escreveu Ek. – Construímos o Spotify por amor à música e também porque o vimos sendo destruído pela pirataria. Opiniões de que ganhamos grandes somas nas costas dos artistas pagando aos artistas apenas centavos me machucam muito.
Daniel Ek explica em sua entrada que o Spotify é uma plataforma que permite que os fãs encontrem suas músicas favoritas legalmente, e os próprios artistas alcancem milhões de destinatários e obtenham lucros merecidos com isso. – Quincy Jones escreveu em seu perfil no Facebook que a pirataria, não o Spotify, é o verdadeiro inimigo dos performers – enfatizou Ek. – Você sabe por quê? Vou dar duas quantidades: zero e 2 bilhões. Os piratas não pagam um centavo aos artistas – nada, zero. Spotify pagou 2 bilhões de dólares para marcas, gravadoras e associações de direitos autorais. Pagamos o primeiro bilhão no período desde o início do site até 2013. O segundo bilhão – de 2013 até agora – calculou.
Segundo o chefe do Spotify, o argumento de Taylor Swift de que artistas não ganham dinheiro tocando suas músicas no site é falso. – No atual estágio de desenvolvimento de nossa plataforma, os artistas mais populares, como Taylor Swift, ganham mais do que com o Spotify 6 milhões de dólares por ano – escreveu Ek. – Além disso, esses salários ainda estão crescendo. Se serviços como o Spotify não existissem, os mesmos artistas não veriam um centavo desse dinheiro, porque acabaria nos bolsos dos piratas da internet – acrescentou.
Ek explicou ainda que entendeu alguns dos artistas que reclamaram das taxas que recebem por suas músicas no Spotify. Ele observou que grande parte do dinheiro é transferido para gravadoras ou organizações de gestão coletiva, que distribuem esse dinheiro ainda mais. – Talvez sejam necessários mecanismos adicionais que governem os acordos com os criadores de forma mais transparente do que agora – enfatizou o chefe do Spotify.
Em entrevista ao Wirtualnemedia.pl, especialistas do mercado musical ressaltam que o caso de Taylor Swift confirma a falta de compreensão por parte de alguns artistas das leis que regem a distribuição de música. E tratam a decisão do cantor como um procedimento de relações públicas e não como um protesto espontâneo contra o streaming gratuito de música na Internet.
– Talvez Taylor Swift tenha calculado que o lucro de relações públicas devido à alta retirada do Spotify excederá o lucro de transmitir suas músicas neste site (não o único na indústria de streaming de música) – diz Bartek Chaciński, chefe da seção Cultura do Polityka semanalmente. – Talvez volte ao Spotify depois de algum tempo. De qualquer forma, esta não é uma boa maneira de combater o fenômeno “música de graça”, como mencionado por Swift. Pelo contrário – uma das últimas formas sensatas de ganhar dinheiro com música gravada no mainstream. Porque – paradoxalmente – Taylor Swift, apesar das grandes vendas, é uma artista mais dependente de novos canais de distribuição do que Jack White, cuja música as pessoas preferem (como evidenciado pelo último álbum) comprar em mídia física. Se Swift não gosta das baixas taxas auferidas pelos artistas por transmitirem uma música em streaming, que ela negocie mais alto – é em uma posição privilegiada que, dada sua posição, tais negociações podem ser bem sucedidas – enfatiza Chaciński.
Hieronim Wrona, jornalista musical da Rádio Polonesa III, também chama a atenção para o fio de marketing da história com o desaparecimento do artista americano do Spotify. – O caso de Taylor Swift mostra um problema com a forma como a música é distribuída que mudou muito nos últimos anos – explica Wrona. – Hoje, um álbum de música não é apenas uma coleção de algumas ou uma dúzia de músicas, mas um lançamento completo contendo muitos elementos adicionais. Basta lembrar que hoje muitos artistas vendem, por exemplo, o álbum na forma de um clássico disco de vinil, e dentro você encontra um cupom ou informações de como baixar a versão digital desse álbum pela Internet. Na minha opinião, nem todos os intérpretes estão habituados à forma como o mercado da música funciona actualmente e, em particular, à forma de venda de discos. Os mais jovens, como Taylor Swift, são de fato um pouco parecidos com seu público jovem, acostumados ao fato de que na era da internet tudo tem que ser “agora” e ao seu alcance. Além disso, lucros e receitas com a venda de discos. Entretanto, esses benefícios costumam ser alcançados ao longo dos anos de atuação no mercado musical – ele adiciona.
– Talvez a gerência de Taylor Swift tenha chegado à conclusão de que está calculando um anúncio espetacular de que a artista se retirará do Spotify, graças ao qual será alto por um momento, o que certamente ajudará na venda de discos. E isso mais do que compensará as perdas causadas pela remoção das gravações do site. Se for esse o caso, não me surpreenderia se as músicas de Taylor Swift voltassem às listas de artistas disponíveis via Spotify sem publicidade em algum momento – prevê Wrona.